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  • Foto do escritorDr Marden Marinha

O cérebro e a COVID-19

Por

Drª Ana Vianna & Dr. Marden Marinha

Médicos Psiquiatras


Diferentemente do que pensávamos no início da pandemia do novo coronavírus (SARS-Cov-2), o COVID-19 é um vírus sistêmico, causando muito mais que alterações respiratórias. O COVID-19 pode atingir vários órgãos e sistemas, dentre eles a pele, sistema cardiovascular, renal, gastrointestinal e sistema nervoso.

Estudos demonstram que o SARS-Cov-2 entra nas células humanas através da ligação da proteína spike do vírus com o receptor ACE2, que é uma proteína expressa na superfície de várias células de nosso corpo.


O vírus pode ser transmitido pelo contato com pessoas contaminadas: contato físico, gotículas de saliva, aerossóis emitidos por espirro ou tosse; além de contato com objetos e superfícies contaminadas.


Segundo o Ministério da Saúde, os sintomas podem variar de um resfriado a uma síndrome gripal, sendo os principais: tosse, febre, coriza, dor de garganta, dificuldades para respirar, perda de olfato, alteração do paladar, náuseas, vômitos, diarreia, cansaço, diminuição do apetite e falta de ar.

O diagnóstico do COVID-19 pode utilizar critérios clínico-epidemiológicos, de imagem e laboratorial. Sendo esse último os exames de RT-PCR, a ser realizado até o oitavo dia do início dos sintomas (utiliza a biologia molecular a partir da coleta de material biológico através de um swab) e o exame imunológico, que vai detectar ou não a presença de anticorpos no sangue, a partir do oitavo dia dos sintomas.


Ao se falar do sistema nervoso central, ficou comprovado que o SARS-Cov-2 é capaz de infectar as células nervosas, tendo como principal alvo os astrócitos, que dentre as principais funções desempenham a sustentação e o controle de substâncias iônicas e moleculares no ambiente dos neurônios.


O vírus pode chegar ao cérebro de forma direta, através da utilização de pares de nervos cranianos como o nervo trigêmeo e olfatório na cavidade nasal e rinofaringe; passando pelo trato respiratório baixo, utilizando aqui o nervo vago para acessar o cérebro e, ainda, pela corrente sanguínea, sendo ainda possível a infecção pela barreira hematoencefálica.


Sintomas psiquiátricos podem ser ocasionados por mecanismos de ativação imunológica, marcada pela grande quantidade de substâncias inflamatórias que são produzidas a partir da infecção pelo vírus e pelo estresse do distanciamento social. Alterações comportamentais podem aparecer depois de alguns meses da infecção primária. Isso se deve a um mecanismo chamado priming, ocasionado por um tipo de sensibilização do sistema imune. O priming é um processo pelo qual uma exposição anterior potencializa a resposta do sistema imune a um estímulo subsequente, envolvendo várias mudanças funcionais e até na morfologia celular.


É esperado, com base em nossa história e dados científicos, que pandemias, guerras e desastres afetem a saúde mental da população ao longo do tempo. Algumas pessoas manifestam sintomas psiquiátricos logo no início da pandemia, incialmente caracterizados pelo claro medo de se contaminar, de enfrentar uma doença desconhecida, necessitar de sistemas de saúde sobrecarregados e até receio de perder seu emprego como consequência social da pandemia sobre os processos de trabalho e sistemas produtivos. Outros, que já tinham diagnósticos de transtornos mentais, podem ter seus casos agravados ou receberam menos cuidados durante a pandemia, o que demonstra as duras consequências da desassistência em saúde.


Entretanto, o passado não foi diferente. Em 2003 na epidemia da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), um estudo demonstrou que as pessoas se consultavam até três vezes mais com psiquiatras do que com infectologistas, e duas vezes mais do que com seus próprios médicos de família. Isto nos mostra a relevância dos aspectos da saúde mental no pós-infecção, mesmo em uma epidemia de menor escala como a SARS.

Agora, estamos vivendo aquilo que especialistas chamam da 4ª onda da Pandemia, que inclui o aumento dos transtornos mentais e o trauma psicológico provocados pela infecção ou por seus desdobramentos secundários.


E qual é o impacto desta 4ª onda?

Nos preocupa muito a epidemia oculta de transtornos mentais e seus impactos sobre a sociedade, tanto do ponto de vista da saúde individual, como coletivo. Esta 4ª onda pode diminuir o bem-estar psíquico das pessoas e afetar áreas importantes da vida como o sono e a sexualidade. E isto já vem acontecendo com o aparecimento de transtornos mentais na população geral, mesmo naqueles que nunca manifestaram nenhum sintoma psiquiátrico.


Mas qual a razão desse fenômeno?

A resposta está na origem multifatorial das doenças psiquiátricas, ou seja, as alterações funcionais dos circuitos cerebrais dependem da interação da exposição a estressores e de uma susceptibilidade biológica própria de cada um, que muitas vezes é determinada geneticamente, onde fatores ambientais podem alterar a expressão dos genes. Assim, a exposição da população a condições ambientais extremamente desfavoráveis, como é o caso da pandemia, têm decorrido com o aumento dos casos de transtornos mentais, mesmo naqueles indivíduos com genética menos susceptível.


A Covid-19 nos colocou frente a estressores de magnitude nunca outrora enfrentados em escala global. Dessa forma, busque seu equilíbrio, não negligencie sintomas que podem ser diagnosticados como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo, estresse pós-traumático, pânico ou outros. Seja avaliado por um especialista, procure atendimento por um Psiquiatra.


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